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Desigualdades económicas: O que fazer?

Em Portugal a situação não difere, antes pelo contrário, a burguesia nacional não perde uma oportunidade para aumentar os seus proventos à custa da exploração dos trabalhadores e do saque aos consumidores, aproveitando a inflação dos preços de produtos e serviços enquanto os salários continuam estagnados.

António Maurício, operário no sector de tratamento de águas
30 de maio de 2022

De acordo com o mais recente relatório publicado pela Oxfam, que cita dados da revista “Forbes”, desde 2020 existem mais 573 multimilionários no mundo, perfazendo actualmente um total de 2668. Em 2000, a riqueza acumulada deste grupo correspondia a 4.4% do PIB global, neste momento representa 13.9%. Os 10 homens mais ricos detêm uma riqueza maior que do que os 40% da população mundial mais pobre e os 20 mais ricos possuem uma fortuna maior do que o PIB da África subsariana.


A combinação das várias crises desde 2020 aumentou imenso os lucros das empresas ao mesmo tempo que num ano mais de 263 milhões de pessoas caíram em situação de pobreza extrema. Pelos cálculos da Oxfam, a cada 30 horas surge um novo multimilionário e, no mesmo espaço de tempo, 1 milhão de pessoas confronta-se com a pobreza extrema. Um bom exemplo dessa discrepância é o cálculo do tempo necessário que um trabalhador do grupo dos 50% mais pobres levaria para receber o que um desses multimilionários arrecada num ano: 112 anos!


Em Portugal a situação não difere, antes pelo contrário, a burguesia nacional não perde uma oportunidade para aumentar os seus proventos à custa da exploração dos trabalhadores e do saque aos consumidores, aproveitando a inflação dos preços de produtos e serviços enquanto os salários continuam estagnados. A DECO, divulgou os dados mais recentes sobre a disparidade salarial nas grandes empresas nacionais através de uma análise às remunerações praticadas em 17 empresas cotadas em bolsa. Em 2020, a disparidade salarial entre o CEO e a média do que pagavam aos seus trabalhadores era de 29.6 vezes, valor que subiu para 32.2 em 2021. Este aumento explica-se pelo aumento das remunerações variáveis dos CEO, normalmente indexadas aos resultados financeiros das empresas, cujo aumento foi de 27.8% em média, num ano em que o salário dos trabalhadores aumentou em média 2.7%.


Um bom exemplo dessas assimetrias é o CEO da “Jerónimo Martins”, dona do “Pingo Doce”. Pedro Soares dos Santos, que viu a sua remuneração aumentar 19.3% em 2021 para mais de 3 milhões de euros, um valor 263 vezes superior ao salário médio pago aos trabalhadores do grupo de distribuição (!!!). Isto sem contar com os 9.3 milhões de euros que recebeu como contribuição extraordinária para o plano de pensões.


Nos últimos dois anos, primeiro com a crise pandémica e agora com a guerra na Ucrânia, tem havido um claro aproveitamento das empresas, principalmente das grandes corporações multinacionais de determinados sectores (alimentar, energético, tecnológico e farmacêutico), para lucrar com a instabilidade internacional, especulando com os preços de produtos, serviços e matérias-primas ao mesmo tempo que continuam a pressionar os salários para baixo! O lucro descarado e sem vergonha, alcançado através do roubo aos mais pobres e ao trabalho, alargou substancialmente as desigualdades sociais. Os principais prejudicados são os do costume: as camadas da população mais desfavorecidas, os trabalhadores imigrantes, racializados, precarizados e do trabalho informal.


Perante este cenário o que é que se pode fazer? Como se combate esta situação no actual contexto de crise geopolítica e económica, onde o governo de Costa, subjugado aos ditames externos e internos, faz o jogo da burguesia patronal e rentista instalada? As centrais sindicais da praça (UGT e CGTP), repetem até à exaustão o discurso habitual e banal contra a precarização e pelo aumento dos salários, com os resultados práticos que se conhecem: uma mão cheia de nada!


Para combater, lutar e resistir contra a tirania do patronato conluiado com o governo para explorar quem trabalha, contra a carestia de vida, a inflação e o empobrecimento generalizado os trabalhadores em Portugal têm de estar organizados em sindicatos combativos, que não cedam aos interesses burgueses e que defendam de forma intransigente exclusivamente os interesses de quem trabalha. As justas críticas que os trabalhadores fazem aos sindicatos reformistas e oportunistas não os devem demover de tomarem a iniciativa de construir um sindicato capaz de os representar e dar voz aos seus interesses. Os dados relativos às taxas de sindicalização por sector são elucidativos: os sectores de actividade com taxas de sindicalização menores são precisamente aqueles onde predominam os salários mais baixos e a precariedade, justamente porque não conseguem impor os seus interesses e assim melhorar as suas condições de trabalho e de vida.


Posto isto, a opção é clara: os trabalhadores têm de se unir e criar um instrumento de organização colectiva que sirva os interesses dos milhões de trabalhadores, sobretudo os mais desfavorecidos, que não se reveja nos sindicatos reformistas, conservadores e oportunistas, subservientes ao governo e ao capital, reféns de partidos políticos e onde se organizam os sectores sociais burgueses e pequeno-burgueses. É dessa necessidade que surge o Sindicato do Proletariado que assume, sem tibiezas, esse compromisso!

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